O DEVIR DO TEMPO

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Santa Comba Dão: terra descaracterizada

A destruição do património arquitectónico e paisagístico na nossa terra não é só de agora, ou de apenas alguns anos atrás, como se possa - erradamente - pensar.



Desde cobrir com alcatrão um troço de um caminho romano, demolição de uma estrutura de um antigo engenho de rega - que podia ter sido recuperado e remodelado para fins turísticos - deixar-se caír de "podre" casas de fachada tradicional para fazer do espaço uma espécie de lixeira ou depósito de carros - em pleno centro da cidade! - enfeitado com ervas daninhas e ratos, passando pela delapidação dos candeeiros antigos (que eram tão bonitos!) que estavam em toda a zona envolvente da Igreja Matriz e também nas amuradas da ponte do viaduto e terminando na duvidosa permissão de ser deixado construir um património imobiliário que descaracterizou todo o resto (Santa Comba Dão ficou uma terra de "caixotes"!), entre outros atropelos, nesta terra fez-se de tudo um pouco. Foi uma terra que sempre esteve refém das vontades de alguns e dos mandos e desmandos de outros. O Povo...esse viu sempre o presente e o futuro a passar ao lado, principalmente o futuro económico e social. O Povo esteve sempre a observar, apático, a olhar, sem ver, o presente a passar e o futuro a esvaír-se-lhe por entre o decorrer dos anos, das décadas, por entre os mandatos de quem manda - ou de quem julga que manda.



A imagem em cima mostra-nos toda a zona entre a Casa dos Barões, a Casa Paroquial (que já lá está há umas centenas de anos) e a Igreja Matriz. Os nossos pais e nossos avós sempre falaram desta zona de Santa Comba como sendo a zona nobre da terra, onde se passeava ao domingo depois do almoço em familia. Era uma zona bastante aprazível, com as suas árvores frondosas e os seus belos canteiros coloridos de flores e relva. Além disso, essa zona era um grande miradouro virado para o Rio Dão e toda a "banda d'além", de onde se disfrutava de uma bela paisagem coroada pela massa imponente (e por vezes nevada) da Serra da Estrela. Como diz a própria legenda da foto essa zona era o Jardim Municipal desta terra. Se observarem bem, vêem até o casario com uma tipicidade própria - e que se encontra ainda em diversas localidades por esse Portugal fora. Santa Comba Dão tem, nos dias de hoje, muito pouco de tipico, nem comida típica tem! A lampreia - que devia ser típica da terra - é uma iguaría que só pode ser comida em restaurantes já bem longe (uns bons pares de quilómetros) de Santa Comba. Hoje é uma terra sem interesse, onde nem a comida é genuína. Uma terra igual a tantas outras: alcatrão, pedra e cimento. O verde dos jardins de outros tempos vai-se extinguindo aos poucos.
Quanto à história desta terra, é o que todos sabemos - ou melhor: não sabemos!

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